sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Sub-r-asa (da penumbra que não cega)

alguém cometeu um erro. não diluíram a reverenda do sol sobre a pálpebra, não enviaram as cartas passadas ao certificador de farsas, não cortaram a raiz dos fados encarcerados na tua nuca. alguém cometeu um erro. o imprevisto rasurou assinaturas, perdurou o desconsolo ao decorrer dos meses, vislumbrou no teu riso doído a garantia dum declínio alheio ao ato. como na brecha do precipício que decorre palavra pós palavra, limitou o que havia de ser premeditado antes que a distração se tornasse serventia da falta, violou o método da ilustre ressalva ao porvir, contradisse o que nunca implicou em solturas justificáveis. alguém cometeu um erro. em contramão ao banal, despenhou a sólida estatura do nome enquanto fluxo do que a cada arfar estremecia, enquanto desmoronavam a ordem dos dias e o ofício partia em descendência. alguém cometeu um erro. os reflexos enfrentavam o pragmático na recusa de que o espelho fosse presa dos teus olhos, desconcertados pelo ocaso de peregrino. alguém cometeu um erro. a persistência dum declive em cada lapso de pensamento, a persistência duma falha na prática da disciplina, na cadência da arfada descomedida que ensina a não subjugar o cárcere. alguém cometeu um erro. compôs em tua só-impressão-do-tempo o pranto que jamais se aliou às correntezas, que jamais desembocou em enseada ou se fez herdeiro das águas petrificadas. alguém cometeu um erro. resgatou o que tecia o enlace do ultimato à rotina, o que se enternecia quando restaurado do desmoronamento, o que se solidificava quando inda vaga matéria, fuligem do que não permanece. alguém cometeu um erro. reviveram as horas hóspedes de um deslize, figuraram o lodo dentre as caminhadas. a pele inda demarcava fronteiras, embora reservasse em si o genérico, o aparte, a banalização daquilo que deglutiria o tempo-alhures aos teus passos. alguém cometeu um erro. tua vigília era um desperdício; as traças remendavam o vácuo, animalizavam a obra da deterioração e, em seguida, disparavam o que já não crível tornar escória ao céu por vinte dias mais altivo.  alguém cometeu um erro. o que permanece é a carcaça do grito, a liquefação da língua ontem monumento. alguém cometeu um erro. se eu reparo o movimento, algo na inércia te reprime, te faz volátil, servil do rebuliço. se eu reparo, espectro na escada, os fatos não condizem e dizem ser reviravolta inédita de não-declarada-obsolescência. alguém cometeu um erro. do empenhar-se vigor da brasa pisoteada, do revelar-se já cinzas do que um dia acendido perpétuo, do naufragar-se navio fantasma entre vales subterrâneos e ferrugem, do render-se —  quanto alvorecer-se —  vívere vago nas vísceras  alguém cometeu um erro. 

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