segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Manhã II (à medida do disparate)

não fosse o uivo do desvario, um pulsar-resíduo-de-urtigas
um perfil em remoção, arremesso ante a metamorfose
não fosse os despertares que encenam o desmaio precoce, 
o ventre das repetições 
a ressonância que em recortes distantes de sol exala fuligem 
desde as sete horas da manhã 
da manhã que regenerada consome a 
memória-andarilha-em-edifícios sob a língua 
não fosse teu precipitar ao acaso cujo dorso dissimula o abismo, 
a linha limítrofe entre a esquina e  a nudez encoberta pelos escombros 
de um monumento abandonado 
não fosse o cálculo das tuas inércias, dos teus despeitos ao transcorrido, 
não fosse a conveniência, o roubo de alicerces em teus ditos 
não fosse a errância que avulta a margem ainda não desbotada pela noite, 
a fuga ao sono estéril da eternidade 
não fosse o impulso que regride teu movimento, 
não fosse o resgate ao sonho em anonimato 
não fosse o brio em estar vestido, em reencontrar subsídio ao escape 
não fosse o penetrar na poça de teus olhos, um conflito 
entre o manuseio do grito e a superestima  
não fosse as traças detrás da porta, o intuito da retórica
não fosse os dedos arranhados, o vestígio do animal que comunga o passado, 
incinera os vultos pelas esquinas da memória, 
perece, agoniza, deserda e opera a maquinaria dos desabrigados 
não fosse o discurso interditado por sonidos impronunciáveis
não fosse a negação do cadáver pelo manifesto, a elevação 
do supérfluo diante o público 
não fosse o tempo inalienável e o desperdício dos atos, 
o regurgitar de um pôr-do-sol que recua com os teus passos 
que, entregue à delineação do cárcere-além, do reflexo 
no berço do herdeiro, incendeia os segundos 
não fosse o retorno à singularidade, àquilo que tão uniforme 
se firma no amanhecer, que, altivo aparato, não cativa o despatriado 
não fosse o mínimo trânsito de luz pelas desvios do cômodo, 
da palavra, do silêncio, não fosse a prática do crime, 
a recusa que oferta volveres gastos  
não fosse o adiamento, o solver distraído dos astros, 
o ritmo frenético das pernas
não fosse a pausa que lancina a cadência da chuva
da chuva que penetra e se acomoda em tua pele, 
não fosse o excesso, o enlace da inundação 
não fosse a vigília, não fosse o exercício de amenizar intempéries
não fosse o instante-em-vergadura, não fosse a desordem 
que revela o mérito dos teus urdos
não fosse o acesso ao irrepreensível, não fosse a fossa em degrau iminente 
(o fronte é coerção ao detento que traga a síncope da palavra)  
não fosse a altura das nuvens libertas, o recauchutar dos móveis, 
as tríplices, a meia-inclinação-nos-lábios 
não fossem tuas constelações dispostas como na primeira labuta
tua insônia, teus afluentes, tuas cavas ocultas 
fosse o despistar da síntese de todos os átimos, fosse a candura que costura 
tuas mãos ao zênite, a associação entre o devir e o confronto 
a repartição dos pomos como carícias na cancela, 
como andares ao concreto, como alçadas ao firmamento 

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