segunda-feira, 9 de junho de 2014

Tuas pedras, minha caixa torácica

Contra a hora que prenuncia a revoada de pássaros à sombra da chuva de pedra e fuligem, desde que à espreita prevista num quase-descortinar de pálpebras; tua estadia, acaso comum ao imprevisto-alvoroço-retalhos-um-século; a energia é ausência e consome a eternidade do candeeiro retraída e escapulida tal como os mares nas minhas unhas; sou a travessia e tu, nativo doutra montanha que se forma no meu perfil, é a nuance das poucas constelações que restaram em mim; jamais detive-me ilesa das cinzas içadas sob um tão pueril ontem, mas, entre tantos gris-segundos, fiz-me impropério, ruína e suplício da palavra recriada no acariciar da tua língua que de súbito remói estátuas; não, não culpem as rugas na pele, a inversão da fatalidade, o ouriço que se alimenta de seus próprios espinhos; meu coração é uma pausa sem lapso qualquer; cesso a precipitação à fim de remediar os juízes ao mergulhar adentro tuas casualidade (in)compatíveis com as lâminas que recortam meu reflexo na água; tu é o monte de areia; e tu é a tempestade que cega os olhos do asfalto como um cumprimento silencioso; o alvorecer invade o cômodo vazio; na medida em que o urdo implícito sacrifica os meus ossos, asas do tempo petrificam; a escadaria torna-se obsoleta ao aplaudir a supremacia da tua caixa torácica; findo por confundi-la com a fumaça que exala da boca da chuva da regressão da cartilha antepassada; um estrangeiro e indolor manuseio da revelia  inda pressinto a comunhão entre os vales e o tímpano que adia a resistência  — cedo ao sono percorrendo desertos sem-fio a cada mísero trincar dos teus dentes; a saliva é a evidência do presságio; que meus dorsos se unam às intempéries iluminadas pelos raios mútuos do teu próprio sol; que minha verborragia se cumpra e dissimule os pesares da rotina como quem lancina o entardecer; que meu pulso incandesça e a fotografia da minha retina seja a testemunha do equívoco; que todas as réplicas do movimento das tuas pernas imprimam em mim a soma das mil sombras-do-devir; que tu sejas a maçaneta e eu apreenda o enclave; sim. 

3 comentários:

  1. estava lendo seu blogue nessas tres semanas que passaram sem nada escrever; algumas coisas me chamaram a atenção
    [não porque estivesse no papel de crítico, analisando] e outras me causaram uma de-sensação [imagino a quantidade
    sintomática, no uso do prefixo "des" hoje em dia - (é mais fácil desdizer do que dizer, mais fácil desfazer do
    que fazer)]... será que perdemos a capacidade de dizer o que nossos poemas, nas horas quebradas, nas madrugadas
    que vamos escondendo pelos séculos, amores depositados na lua, nas nuvens, nos materiais mais fantasmagóricos...
    será que é impossível dizer e viver esse átimo em que somos tão capazes, pelos blogues que se multiplicam; respirar e
    transbordar ao outro, qualquer outro [nem precisa ser àquele que sonhamos nossas fábulas (ainda que para acusar o cimento, só porque existe certo conforto e repouso nesta produção de vácuos... pensando sobre teus textos, pensei se era possivel, pelo menos, imaginar um cinza totalmente independente, particular...

    cinzaluzia por ramonlvdiaz

    aquela que não habita o não
    que também dissimula no sim
    e no som que se aproxima do
    fim e tudo que for doravante
    e duarte pela noite de físsil
    atmosfera de não frutificar os
    mitos até sintetizar os santos
    nas mãos uma prece digital e um carinho sem forma.

    reluzir até ultrapassar o retorno
    e estar sempre em nua transcrição,
    na perversão que renasce e queluz
    o mesmo ponto que jamais partiste
    no quantum afeito ao desencontro e
    desenvoltura: paraíso gris que
    reabre e delira qualquer beatriz
    recôndita em nosso habitacional
    conjunto lúcido: transluiza feito alto tráfego.

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    1. O peso, a desvalia que castiga os pulmões. Doravante, mas não tão enfático, um concílio entre o que tem sido e a recusa no ato de nomear o gris tornado. Talvez tanto lapidar a pedra nos tenha moldado a face; quiçá.

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