sexta-feira, 27 de junho de 2014

Maçaneta

As horas tinham o teu nome
soma de auroras por onde irrompia o perpétuo 
onde o desamparo ao resguardá-lo na pálpebra 

resistia contra a eterna recusa ao falar 
as horas tinham o teu nome 
o peso tão inalterável confundido com a fome 
que detinha do vestígio da tua primeira palavra
a fome que impedia o sepulcro da ferrugem nas línguas 
intempérie defronte o ultraje ou cidade
donde se originariam meus suplícios  
a cidade é empréstimo àquele que acolheu meus dentes 
e declínios, naufrágios, lapsos tais como 
as horas tinham o teu nome
que se moldava como os edifícios mais restritos 
à concórdia das asas
incinerava o precipício eliminado
como enlevo do ambíguo nos muros 
das últimas moradas
e previa o distrair das farsas quando a encosta de cinzas 
cedesse a rigidez do tempo ao sono-estátua
as horas tinham o teu nome
e meu crânio cuja substância se desfazia 
em gelo incorruptível 
minha memória e a mão esquerda da nebulosa 
dispostas sobre o colosso contínuo entre a despedida e o
hiato que pressentia 
a avenida há anos-luz da tua voz
teu lapidar mais ríspido ante a ausência
que desalinhava o rio de fuligem
o pedra doravante a pedra doravante a pedra 
doravante a pedra doravante a pedra doravante a pedra
e a pedra corroendo a pele adulterada pelo oxigênio 
uma cidade sem vagas e impressões digitais
cujas ruas tinham teu nome
cujas horas abrigavam um parasita por trás da fonte sem-fio de amanhãs
cuja palavra se alimentava da areia nos meus olhos
nossos viadutos como dois sacrifícios ao átrio estéril
o concílio entre o criado-mudo e a respiração sem candência
meu fôlego como resistência ao deserto mais impuro
(nada deforma a pedra)
senão a face no espelho recém-criado das nossas últimas travessias
prestes a cessar
nossas sombras contra as horas como lâminas

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