domingo, 4 de agosto de 2013

Do Escaravelho ao (In)esperado

"Ode às luminescências que consome os teus olhos mudos, avante!"

I
       À mercê do desastre nos ancoradouros 
das tuas impressões momentâneas
despir-me a desvanecer  nebulosas sem o consentimento singular 
de qualquer veraneio de outrora 

II
      Os silêncios tumultuosos  
os quais perduravam minha solidão temporária
pediam passagem entre os minúsculos protótipos de insônias
e os telhados cobertos por um rasteiro invólucro de insanidade
que abrigavam uma andorinha desnorteada 
esmaltada em corpúsculos de fadistas doentios
do meu não-ser poesia, imagem e pranto  

III
       Dissiparam-se em retrocesso 
as luminescências turquesas de um amanha menos remoto;
tuas  pneumoabismáticas vísceras, como no nascimento de um invertebrado 
reluziam sobre as frases desconexas e empoeiradas saletas 
que silenciavam no palácio erguido ao resplendor 
e aos adormecimentos errantes 

IV 
       A parede 
é um mapa no qual transcrevi 
toda a existência repentina do meu entardecer 
a telepatia desenfreada da minha utopia em vão 
aplaudida em meio ao arremesso de crepusculares estandartes
o adereço afável que range todas as madrugadas 
nos quartos vagos do subconsciente
prosseguem desvirtuando minhas correntezas tardias d'uma terra visceral
e se eu agora escrevo, é porque não estou lá fora 
(se estivesse, seria eu mero espectro cego)

V
      Mas tanto me apreende o gosto pelos ideários poéticos, no entanto
mesmo quando as multidões se esquecem
da andorinha perdida nos telhados soturnos das casas  
dos recortes de poesia presentes nas luzes das cinco 
dos cardiogramas aflorados em meio aos babélicos congestionamentos semanais 
do cintilante brilho atemporal das lâminas que assassinam os (m)ares
da pulsação cansada das veias dos que se banham com os raios de sol
da minha (e da tua também) taquicardia mortífera 
implorando por inefáveis curas, como rasuras nas cartilhas das horas
As multidões se esquecem, as multidões (des)enlouquecem 

VI
      Deve-se contornar as lápides esquecidas
com as mãos martirizadas pelas triviais tempestades do tempo
de modo com que seja eu capaz de idealizar o amanhã 
sem que meus pensamentos se percam nos abismos inéditos 
Descaminhadas e descompassadas por minha respiração ofegante
minhas lágrimas permeiam entre as fossas restritas e linhagens sem fim 
implorando pelo esquecimento turbulento que já não alcanço 
esqueçam as conspirações criadas numa sã desventura de Março!
Alcancei as constipações imortais da mediocridade que em mim
nesse instante se alastra entre os pulmões 
Ele me esquecerá: eu esquecerei das horas: eis minha truculência

VII
      Nasce o escaravelho sonâmbulo embalado pelos véus das nuvens
seu invólucro furta-cor orlam os pseudônimos em efemérides fugazes
sua face pálida desliza pelas janelas transpassadas da penúria
seus órgãos enraízam-se no polegar distinto de uma obsessão 
Enforquei-me na escura mansarda do meu próprio pensamento 
quando encontram-me já estava em estado necrótico
quando pus-me a despertar para fora de minha consciência já estava arruinada
O destino maquina os apagões de memória e furta os corações desesperados

VIII
      Sou um ser inepto 
que não mais alcança as correntes 
desfiguradas e iluminadas 
naquelas últimas horas de Junho

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