"Ode às luminescências que consome os teus olhos mudos, avante!"
I
À mercê do desastre nos ancoradouros
das tuas impressões momentâneas
despir-me a desvanecer nebulosas sem o consentimento singular
de qualquer veraneio de outrora
II
Os silêncios tumultuosos
os quais perduravam minha solidão temporária
pediam passagem entre os minúsculos protótipos de insônias
e os telhados cobertos por um rasteiro invólucro de insanidade
que abrigavam uma andorinha desnorteada
esmaltada em corpúsculos de fadistas doentios
do meu não-ser poesia, imagem e pranto
III
Dissiparam-se em retrocesso
as luminescências turquesas de um amanha menos remoto;
tuas pneumoabismáticas vísceras, como no nascimento de um invertebrado
reluziam sobre as frases desconexas e empoeiradas saletas
que silenciavam no palácio erguido ao resplendor
e aos adormecimentos errantes
IV
A parede
é um mapa no qual transcrevi
toda a existência repentina do meu entardecer
a telepatia desenfreada da minha utopia em vão
aplaudida em meio ao arremesso de crepusculares estandartes
o adereço afável que range todas as madrugadas
nos quartos vagos do subconsciente
prosseguem desvirtuando minhas correntezas tardias d'uma terra visceral
e se eu agora escrevo, é porque não estou lá fora
(se estivesse, seria eu mero espectro cego)
V
Mas tanto me apreende o gosto pelos ideários poéticos, no entanto
mesmo quando as multidões se esquecem
da andorinha perdida nos telhados soturnos das casas
dos recortes de poesia presentes nas luzes das cinco
dos cardiogramas aflorados em meio aos babélicos congestionamentos semanais
do cintilante brilho atemporal das lâminas que assassinam os (m)ares
da pulsação cansada das veias dos que se banham com os raios de sol
da minha (e da tua também) taquicardia mortífera
implorando por inefáveis curas, como rasuras nas cartilhas das horas
As multidões se esquecem, as multidões (des)enlouquecem
VI
Deve-se contornar as lápides esquecidas
com as mãos martirizadas pelas triviais tempestades do tempo
de modo com que seja eu capaz de idealizar o amanhã
sem que meus pensamentos se percam nos abismos inéditos
Descaminhadas e descompassadas por minha respiração ofegante
minhas lágrimas permeiam entre as fossas restritas e linhagens sem fim
implorando pelo esquecimento turbulento que já não alcanço
esqueçam as conspirações criadas numa sã desventura de Março!
Alcancei as constipações imortais da mediocridade que em mim
nesse instante se alastra entre os pulmões Ele me esquecerá: eu esquecerei das horas: eis minha truculência
VII
Nasce o escaravelho sonâmbulo embalado pelos véus das nuvens
seu invólucro furta-cor orlam os pseudônimos em efemérides fugazes
sua face pálida desliza pelas janelas transpassadas da penúria
seus órgãos enraízam-se no polegar distinto de uma obsessão
Enforquei-me na escura mansarda do meu próprio pensamento
quando encontram-me já estava em estado necrótico
quando pus-me a despertar para fora de minha consciência já estava arruinada
O destino maquina os apagões de memória e furta os corações desesperados
VIII
Sou um ser inepto
que não mais alcança as correntes
desfiguradas e iluminadas
naquelas últimas horas de Junho
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