Amélie
Amélie era como o menos audível murmúrio ecoando entre as paredes irrefutáveis da consciência. Quando vociferava
silenciosamente as ressonâncias momentâneas em cada manuseio ilusório nos
espaços sinuosos da minha memória, calei-me envolta por um vulgar pórtico de
declamações turbulentas. Um, dois, três, vinte e sete maçadas insultando a taquicardia
perpétua que já manifestava-se pelos interstícios das pálpebras. Regressei
despida de qualquer invólucro irreal como outrora a desfragmentar meus
pormenores gritantes quando Amélie desleitou sua ingenuidade profícua entre
lâminas azuis e véus místicos. Meus dedos circundando suas covas alinhadas
perfeitamente sob as correntes deturpadas do meu sangue anêmico escorriam por
trás dos tecidos delicados do tempo.
Como a suavidade irrequietas da mais
memorável palavra esquecida, seu pranto desnorteava meus pensamentos e,
escapando pelos soslaios amargos, desbotava em busca de um feixe de emoção. Tão sereno era o modo como suas mãos se resguardavam dentro de suas roupas e caminhava pelas ruas à tarde envolvida por desvarios enquanto as engrenagens de seu coração balbuciavam oceanos de ordens enfadonhas. Sua solidão era esquecida dentro das frenéticas nebulosas do tempo. Amélie era a fantasia.
Eis
que de seus devaneios florescia o recanto visceral da irrealidade despertando a
essência em um mundo onde tudo anunciava a albergaria infindável do sonho. Aconteceu, então, que o cenário ilustre de simplicidade desvaneceu diante dos seus tão ternos olhos no mesmo instante em que as cortinas do mundo real se abriam delineando as curvas diáfanas dos seus homicídios silentes.
Ela era como uma reminiscência inatingível. Até o dia em que se suicidou e ninguém soube explicar o porquê.
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