sábado, 24 de agosto de 2013

À plenos pulmões

Caros 
camaradas 
futuros! 
Revolvendo 
a merca fóssil 
de agora, 
perscrutando 
estes dias escuros, 
talvez 
perguntareis 
por mim. Ora, 
começará 
vosso homem de ciência, 
afogando os porquês 
num banho de sabença, 
conta-se 
que outrora 
um férvido cantor 
a água sem fervura 
combateu com fervor.
Professor, 
jogue fora 
as lentes-bicicleta! 
A mim cabe falar 
de mim 
de minha era. 
Eu — incinerador, 
eu — sanitarista, 
a revolução 
me convoca e me alista. 
Troco pelo "front" 
a horticultura airosa 
da poesia — 
fêmea caprichosa. 
Ela ajardina o jardim 
virgem 
vargem 
sombra 
alfrombra. 
"É assim o jardim de jasmim, 
o jardim de jasmim do alfenim". 
Este verte versos feito regador, 
aquele os baba, 
boca em babador, — 
bonifrates encapelados, 
descabelados vates — 
entendê-los, 
ao diabo!, 
quem há-de... 
Quarentena é inútil contra eles — 
mandolinam por detrás das paredes: 
"Ta-ran-ten-n-n..." 
[...]

Vladimir Maiakóvski

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