sábado, 11 de maio de 2013

Monólogo de Baluarte

Adormece, o poeta
O poeta no qual acidia-se a mente em eloquência pela busca do eterno 
No qual a língua palpita pela palavra 
E mesmo à noite, quando deita em seu deleito
Vive em seus versos a cintilar a transcendência  
Dos descartáveis membros ponderados 
Quando em meio a reverberação distímica 
Do alvorado alvor das estrelas 
Proferirem seu ofício imaginário

Apenas nos versos revela-se despido e intrínseco   és louco porque escreves! 
Qualquer discurso ou exaltação 
É regalia da inestimada perfeição: as palavras mentem por si próprias?
Qualquer sono ou surrada invenção do pensamento 
É pouco espasmo de felicidade: a felicidade mente por si própria?
Qualquer espírito místico ou retrato falado de si mesmo 
É fingimento pulsante: o fingimento mente por si próprio? 
Qualquer tempo recusado ou retrocesso
É escapatória da realidade: a realidade mente por si própria?

Avante, poeta! Avante ao sonho que ao máximo consuma teus olhos!
Todos os receios e as loucas percepções 
Todos os dias pautados na palma de suas mãos
Recitam, amenos, na vesguice do farol que ilumina-o 
Perdera-se, o poeta, entre o escatológico Simbolismo e o avánt-cœur
Caminha entre a linha do intencional sonho de primaveras passadas
E a fatalidade dos trocadilhos pós-modernos 
Fetos já tão deformados, ó misticismo farsante
Nascem das entranhas de um colossal mundo sonâmbulo 

Não sei das suas superficiais aparências
Pois todas não convergem entre a multidão
O poeta é vulto de solitárias reticências
Ascendência martirizada pelo seu próprio coração
Quem mais anunciaria seu codinome em meio à imensidão de alegorias tão vagas?
A não ser o lado ilegível da Lua, sortilégio divino de apologia histórica
Que o habita, atroz, mesmo nas manhãs as quais a Noite apaga 
Não sei dos seus pseudônim-o-s e ímpetos vorazes
Cujos escondidos nas extremidades das pálpebras, imortalizam-se; Não sei. 

No último dia de celebração, divinizaram-se suas áureas lágrimas
Antiquadas como um mausoléu, como os trovadores de esquina 
Eis o baluarte de convicção ínfima, acentuada
E nos subúrbios de sua idealização artística ao qual é redigida a Poesia 
Existe uma lacuna vazia à espera da ostentação
Nós esperamos décadas pela célebre vinda da eternidade: nós, o mundo e o poeta
Aperfeiçoamos-nos cansados de insistir no formidável sonho desperto
Mas o poeta torna-o inteiramente realístico, 
Tangível mesmo quando os mais esplêndidos impérios de fogo degradam-o
 
Fantasia, nada além de fantasia. Sim. 
O poeta adormece em trépidos movimentos complacentes 
Que se opõe em contraste com a aurora lá fora
Arremessa ao chão seus acessórios lúdicos 
E contrai-os em epilepsia: prova agora, desalentado, das diurnas neuroses
Pois nascera à poucos dias da época das flores
Quando o pranto celeste ainda decaía, decaía, decaía 
E chovia todas as águas que restaram desde o prelúdio da estação
Cansara-se, então, o céu de derramar oceanos e sobrepor nosso estandarte
Meu Deus, eram ainda a decorrer dias em insaciável fome 

Essa estrofe já não existe
O poeta não autorizou que fosse anunciado o fim
Ainda adormece e, por isso, não procede adiante: o sonho é eterno, eterno é o sonho!
Guardem seus aplausos e agradecimentos para outra hora
Mas não declarem qualquer insinuação que o contradiga 
Há ainda a realidade que retrocede o princípio tão falho em sua mais perfeita arquitetura
Deixem-no dormir, deixem-no dormir
Pois para todos os tempos lembrará que existe, enfim 
Eis o Poeta, eis a Poesia 

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