quinta-feira, 17 de março de 2016

ancestral

ouvir o barulho dos aplausos na televisão que era réplica da chuva quebrando lá fora
era chuva, embora, o toque múltiplo entre as mãos 
movendo-se no ar feito intempérie 
o parentesco entre a palma da mão e a chuva  
aquela música de milhares de anos gravada no silêncio de uma caverna  
uma infinidade ainda embrião 
revivida num só corpo de som 
respirando 

*
estar sempre à deriva de uma alucinação
enquanto no que brevemente for sangue e vazão pelas enchentes dos corpos,
o rebento da unidade que ressurge lógica mas quebradiça  
a genealogia dos frutos apodrecidos nas vagas duras recompensas 
enquanto a mão delineia a cara 
que finda e revela dois lados numa só piscada
estar sempre à mercê de uma submersão
enquanto resistência aos fios que suturam na água, no ruído ao acaso,
revelar o pavio pela fuligem que foge de um ímpeto
o vislumbre é vertigem quando em todos os sentidos se sonha  
quando o ofício da penumbra na candura silencia o escasso 
enraizado ao abismo / um imundo desmesurado 
como colar as retinas àquilo que tudo que é fuga adia 
por dentro descerram-se os eflúvios que crescem contidos
nas raízes do mundo:                                                  

ar que guardo por meio-século no pulmão esquerdo 

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