ouvir o barulho dos aplausos na
televisão que era réplica da chuva quebrando lá fora
era chuva, embora, o toque
múltiplo entre as mãos
movendo-se no ar feito
intempérie
o parentesco entre a palma da mão e a chuva
aquela música de milhares de
anos gravada no silêncio de uma caverna
uma infinidade ainda
embrião
revivida num só corpo de som –
respirando
*
estar sempre à deriva de uma
alucinação
enquanto no que brevemente for
sangue e vazão pelas enchentes dos corpos,
o rebento da unidade que
ressurge lógica mas quebradiça
a genealogia dos frutos
apodrecidos nas vagas duras recompensas
enquanto a mão delineia a cara
que finda e revela dois lados
numa só piscada
estar sempre à mercê de uma
submersão
enquanto resistência aos fios
que suturam na água, no ruído ao acaso,
revelar o pavio pela fuligem que foge de um ímpeto
o vislumbre é vertigem quando
em todos os sentidos se sonha
quando o ofício da penumbra na
candura silencia o escasso
enraizado ao abismo / um imundo
desmesurado
como colar as retinas àquilo
que tudo que é fuga adia
por dentro descerram-se os
eflúvios que crescem contidos
nas raízes do mundo:
ar que guardo por meio-século
no pulmão esquerdo
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