quarta-feira, 25 de março de 2015

Resistir

2 comentários:

  1. livro bacana é o practical criticism de Ivor A Richards, critico literario diferente da tradição francesa que a nossa crítica literária embebeu-se por décadas. Curiosamente ou não a Inglaterra não produziu críticos literarios na mesma 'altura' de seus autores; é porque, talvez, todos os grandes autores ingleses já sejam, eles mesmos grandiosos críticos literários -- de certa forma, em muitas maneiras, todos eles fazem meta poema -- exceto Ivor A Richards. É critico literario por oficio mestre e nisso soube modular como ninguem... em Practical Criticism, fez um estudo transversal dos poemas, pegou varios poemas, de autores consagrados e não e distribuiu entre amigos e alunos para que eles criticassem as peças... o resultado foi interessantissmo, menos pelas analises dos poemas pelos amigos e alunos, do que pela interpretação que o proprio Richards fez destas analises, mostrando bem claro os sintomas de sua epoca...

    havia um entre tantos, que criticavam o poeta não so pela tecnica e sentido mas, percebia-se claramente a indisposição do leitor para o texto tão somente pela questão do gosto de epoca e apreço caracteristico por determinada escola poetica... ele chamou isso de stock responses, essas coisas mais ou menos arraigadas em nossas cabeças e que despontam como mecanismo de defesa quando se julgam atacadas por coisas que leem...

    confesso que tinha um vicio ao te ler, excessivamente lusofono de minha parte, de escaninhar ali, neste simulacro tao somente portugues, mas eis que me fica a mente a palavra nevoeiro (mensagem, f pessoa), poderia ser neblina... as vezes tenho a sensação de ler seus escritos dentro de uma neblina, porque nada esta propositalmente claro -- se pego os paragrafos fico com a 'nitida' sensação de não ter te entendido, eu sem saber os verdadeiros motivos -- não é um modernismo mecanico de tristan tzara artificialismo besta pra se fazer não entendido... é trançado, com pausas, com virgulas, ponto e virgula, uma bonita e silenciosa contigencias de prefixos que des-fazem o seu proprio inicio: submergir, desvencilhar, dissolver, desconhecer, desprazer, distrair... são textos feitos para evaporar. por vezes sentimos que voce desencarna a palavra, que quase consegue tirar de cima dela o ato inicial que começou seu processo -- teu meta poema é de tras pra frente, se desfaz...

    romeu (para o frei lawrence, sabedor de julieta morta) - william shakespeare [ato 3, cena 3]

    tu não pode falar do que não podes sentir.
    fostes tu jovem como eu, julieta tua amada,
    uma hora atras casados, teobaldo assassinado,
    ajoelhado como eu, e como eu banido,
    então podes tu falar, então podes tu arrancar teus cabelos
    e cair ao chão, como agora eu faço,
    tomando as medidas de um caixão ainda não feito.

    "mergulho. a quem evocar sob a carcaça do recorte que em mim perdura? se enxergasse o sol quando chove, indolor ao sinal da relutância amanhecida, coisa absoluta rente aos dedos. se tateasse a chuva, se comprimisse o corpo e nele construísse escadas aos espinhais do instante. se ouvisse, em uníssono, o fino soluçar do poente. se mergulhasse no abismo que dos instintos demanda a entranha; do exílio, a escora dos teus rastros de areia. se fugisse e o alarde partisse em desvão. mergulho; cerco-me entre janelas; a chuva, um mar que andarilha."

    um abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. é estranho e ao mesmo tempo admirável o modo como se entremeia o olhar alheio àquilo que expomos sem antes discernir o que deve ser compreendido ou não, como se o lapso da criação fosse subitamente um lance breve sobre algo demasiado amplo, fugidio. e aquele que o faz num manuseio de estimativas as quais dispõem de todas as possibilidades finda por, senão, perecer em fagulhas de incerteza, des-trilhar o percurso do que a cada dia afunda sob estes montes tamanhos. passei alguns dias pensando sobre o seu comentário num estado de volúvel vertigem, absorvendo ao ponto de dissolver os alicerces do que poderia ser filtrado. quiçá a perenidade da desintegração seja a impossibilidade do rompimento em/de si sem que o abismo se cumpra. chego, pois e como de costume, à linguagem divagando a impressão do teu soslaio, que é a decifração, e da minha frontalidade enevoada, fosse as palavras uma mão que falha no ato de apartar as nuvens do céu. e este é céu é contrário: desaba como se quisesse a errância da totalidade.

      abraços.

      Excluir

Páginas

Seguidores