segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Ígneo-dilúvio

Toda saída é despedida do ocaso, a casa, o ventre, a fome que não mais dilacera, a fome que consome a saciedade. todo convite é recusa, é conveniência ao que aprisiona, tormenta que se lança ante a curva. toda inércia é vício do fluxo, da rapina que sobrevoa a entranha do forasteiro, alvo do que já não amanhece, da rapina cujas asas atrasam o ofício do sol, alvo do que cega o disparo. toda suficiência é veia desordenada, é persiana do que destrata, atrofia reparável, do que transpõe andarilha repulsão, diverge, mantém o cadenciar ao fiar da constância. toda muralha é fulgência estéril, é brandura descartada pelo encarte, pedestal da fluência em cada desdizer, solvência da minha última maçada. rasgo o verbo, estrangeira à mim, estrangeira ao sangue que perfura-me o engodo, ao raio que adentra o cômodo. o raio é nativo, é clave e expulsa-me de todas as quinas até tornado-ostracismo em vaga peregrinação pela escadaria. contra a hostilidade, contra a trépida temperatura que conserva o arfar, entorno num tatear quase que instantâneo e superior às ilhas afundadas sob os cílios, entorno e torno lúcido o encaixe dos trilhos frente à hora que devora a lâmpada, bem sabe o ornato da própria mão. é variação, volúvel, o vislumbre da sombra tecendo, num intérmino de cruzadas, a travessia. esqueço e nalguma tarde, às cinco, se desfigura a diretriz à maneira de quem renuncia o nome por tão fugidia memória. quisera eu congestionar a abertura. afirmo ser partícipe, locação que não parte, de um simulacro arterial, e arde, nos sentidos, tão ígneo-dilúvio cujo presságio invoca o trágico, cujo dorso desvanece em montes.toda janela reparte miragens, quer cruz firmada, lapidando o embolso, mas não cede a oratória ao verniz lasso do pêndulo, não. ninguém delimita o caso. tu iças as cinzas como quem pendura o sol no teto, quando por descuido tropeço no desalinhamento à tarde. a tarde é gaivota sob cume mudo e eu finjo que escalo a montanha unindo a minha, manhã cedo, à ossatura, tua. quem? todo afinco é lápide carcomida. esqueço.

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