domingo, 6 de julho de 2014

Pontual

implosão de atritos; o desmonte é concierge das raízes
do outro lado da cidade, o oxigênio surpreende o semáforo
o convite ao absurdo; cordas vocais remodeladas
         por uma redundância que persiste
quando a insistência no desvario reconhece ser consolo à ausência; 
o roubo dos segundos passados
exílio nas tuas alturas; no impulso que incinera o ciclo
datilografia de espadas como um bilhete de mercúrio; teu grito mais pontual; 
tua reviravolta cedida ao andares dos vales; que desmoronam; que desertificam; 
um alvoroço de pés; os ossos fora do lugar.
se eu dissimulo, a janela mascara o escudo
se eu gris desnudo, a janela incita ao percurso 
eu  roupagem intraduzível 
via de mão em anestesia 
passos vagarosos 
olhos de carbono 
regresso de todas as alvoradas 
curvo a língua e amorteço a queda 
com a memória dos
vórtices 

Um comentário:

  1. um místico belga chamado Jan Van Ruysbroeck [1293-1381] costumava dizer: "Devo regozijar-me além dos limites do tempo... contudo sei que o mundo se estilhaça perante a tais impulsos e atritos gerados..." Como se constituir uma obra, um corpo depois de tanto fragmento?.. o ato de conhecer pela inocencia-experiencia (William Blake não nos deixa outra possibiliade) nos tempo de hoje porta uma suspeita dificil de carregar, de respirar e confiar nos passos e do que deles derivam... há sempre uma suspensão pairando, duas ou tres vezes desconfianças não apenas do canon ou do credo, mas do proprio ato reflexivo... essas produções de espelhos sem fim retirou de nos o empuxo vetorial do desejo, do misterio, do sagrado e dos delirios... sem saber para onde ir, não vai, fica no corpo latente, nos esbirros da semana atras de qualquer signo que vibre um treco decente... poetas fundam as nações porque fundam (vida e morte) o signo e também o corpo mas hoje vivemos tão somente da memoria gloriosa de esforços literários que não guardavam esforços - não temiam não retornar de suas viagens, talvez nem quisessem - hoje não, queremos o conforto e a segurança de saber voltar porque o oposto seria a completa incapacidade de viver sob o mesmo signo, sob o mesmo corpo... nossa civilidade é propria ao enquadramento, ao percurso das personas, esquecemos que o conceito de equilibrio e desequilibrio está lá nas formas abstratas, também no triangulo mudo que não permite qualquer aderencia de signos - sua forma é feita de pura relação, então o que é, de fato, um corpo humano, uma obra de arte?

    Há algo nos simbolos que possuem uma pureza arcaica (que não conseguimos mais pertencer ou compartilhar) e que insistem dor e maravilha em nossas lembranças, como se vivêssemos muito mais através delas...

    um abraço

    [...]
    "no impulso que incinera o ciclo [...]
    tua reviravolta cedida ao andares dos vales; que desmoronam; que desertificam;
    um alvoroço de pés; os ossos fora do lugar.
    se eu dissimulo, a janela mascara o escudo
    se eu gris desnudo, a janela incita ao percurso
    eu — roupagem intraduzível
    via de mão em anestesia
    passos vagarosos
    olhos de carbono
    regresso de todas as alvoradas —
    curvo a língua e amorteço a queda
    com a memória dos
    vórtices"

    Frederico Garcia Lorca - Sésamo

    El reflejo
    es lo real.
    El río
    y el cielo
    son puertas que nos llevan
    a lo Eterno.
    Por el cauce de las ranas
    o el cauce de los luceros
    se irá nuestro amor cantando
    la mañana del gran vuelo.
    Lo real
    es el reflejo.
    No hay más que un corazón
    y un solo viento.
    ¡No llorar! Da lo mismo
    estar cerca
    que lejos.
    Naturaleza es
    el Narciso eterno.


    Robert Frost - Nothing Gold Can Stay

    Nature's first green is gold,
    Her hardest hue to hold.
    Her early leaf's a flower;
    But only so an hour.
    Then leaf subsides to leaf,
    So Eden sank to grief,
    So dawn goes down to day
    Nothing gold can stay.

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