sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Ode ao ócio (des-poética)

Tenho pensado sobre o tempo
O tempo como matéria inflexível, o tempo como trausente estático
há eternidade o suficiente em prolongar os lapsos de um instante comum
como na balburdia expelida de um exagero desmerecido, sobretudo daqueles mais discretos
que persistem consideravelmente na memória 

Se então meus olhos permanecem sorrindo guiados pelo breve sapateado do ócio

Considerem tais observações imersas num abismo profundo
herdeiro de insônias períodicas e uma suposta cegueira incurável 
onde caricaturas humanas se entretém com peças fabricadas ou protótipos de arranha-céus
enquanto boceja o autônomo arco-e-flecha da casualidade

Todo gargarejo é uma benção divina
Quando o primeiro homem expôs sua prematura linguagem numa estrutura visível 
ele apagou a estrela dourada da noite e suspendeu grades rígidas sob seu coração
Hoje reverenciamos a exaltação diversificada da sentimentalidade 
placas iluminadas ornamentadas com buquês de fetos plastificados 
lentes incolores sobrepostas ao farol de todos os meios de comunicação 

circos, unhas, telefones, alegorias, miríades de materiais invisíveis!
A maior problemática tornou-se então a quase impossibilidade de contemplar legítimos ossos humanos numa mensagem

Certifico-lhes, no entanto, que a estadia superficial de nuvens escarlates
Dentro da redoma blindada que chamamos de pós-modernidade 
está prestes a ser suspendida
sendo substituído por um jardim que pode aparentar ser paradisíaco 
mas cujas as flores ocasionalmente envenenam aqueles que desfrutam  
das simples comodidades de uma sombra

(O sono ameniza a rotina dos descansados,
bem como enaltece sua ausência nas madrugadas dos arqueiros sonâmbulos)


2 comentários:

  1. Definitivamente, Luiza, sua poesia não tolera aproximação superficial.

    Não há paraíso sem o perigo das serpentes,
    e é isto que o torna tão vazio de medrosos.

    Eis que, estou 100% identificado com o seu blog. Parabéns!

    ResponderExcluir

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