sexta-feira, 14 de junho de 2013

A Fuga do Pássaro Azul e Os Meus Saudosismos de Fim de Tarde

I
Tua exaltação tardia é alicerce da minha obsessiva inquietação
Enquanto o meu nome naufraga nas águas do esquecimento
Trago-lhe, despida, a minha babélica declaração-final   

Estes versos idealizados há dias e dias atrás
Atrasara minha morte precoce
E no embalo do uivo nevrótico
As palavras colidem com a imensidão de nebulosas
Mas o ar que permeia em meus pulmões ainda é o mesmo
O mesmo que na primeira madrugada me foi roubado
E, das cavas, transbordara poesia
 

Meu sono é alucinante

É de um branco perpétuo e insaciável
Tal qual minhas horas reveladoras de tamanha impertinência
Que em cada vislumbre teu, esfacelam-se em versos

O meu nome está disperso em cada pressentimento farsante
A minha sede é delirante, viva às coincidências tão poucas
Que transluzem interceptando a demência de cada palavra
Ao partirem ao meio nosso último prelúdio de glorificação

II
Tu, que subitamente corrompes a linha imaginária
Que alia-se ao inventivo cemitério de memórias soterradas,
É o escrúpulo da minha insônia 
(O) Amo-r (,) é como um célere espanto em todos os dias ausentes
Como um desenlace de breve nostalgia
E o meu tolo Romanti(ci)smo logo insistirá pela transfiguração
Ode à tudo isso e à felicidade que dorme insone, comedida epifania 

Eu te amo como quem no leito de morte, padece
À espera de um transplante cardiovascular 
Eu, orvalho de resignação, te amo como um sentimento anônimo 
Que atravessa a linha da eternidade 
Como quem recusa a iluminada amenização da dor
À fim de esquecer-se que existe um mundo lá fora 
E a solidão é a sentença de toda realidade 

Livre, livre! Poeta-órgão, pássaro gritante de cada silêncio meu
Nós, corpos abstratos fadados à disjunção, atrasamo-nos para o espetáculo do retrocesso
Poetas desesperados, crianças maltrapilhas, 
Pétalas fétidas, almas órfãs
Por que adiar a eutanásia mordaz de cada arfada irreal?

Eu te amo como os olhos que desfolham-se em rugas
Como a palavra que morrera antes de ser proferida 
Passam por mim os tempos, precipícios de uma eternidade irresoluta
E os contatos bem mais que mero detalhe da memória 
Pairados em versos e miasmáticos coágulos de sangue. Raízes, tênues raízes...

III
Escrevo e os retratos hoje tão distorcidos
Dos entardeceres enquadrados na esquina, vicejam
Revestindo minha covardia com oceanos de faíscas vulgares
E perguntando-se sobre o que pensarias: é fim de tarde, 
Há toda uma realidade entre nossas almas
Seguindo o ritmo da clepsidra lunar  

Torno-me códex de uma banal apatia imaginária
E o órgão desvanecido implora pela renúncia e retroprojeção da Memória
(Àquele que acaba de sair pela porta e segue pela estrada: espero o melhor, apesar de todos os apesares)
Os velhos poetas ditaram a apigênese de todas os amores esvurmados em saudosismos
Eu, que hoje contento-me com as incertas idealizações,
Amara os tons púrpuras celestes das cinco e meia quando criança
E as modinhas tintubeantes dos fins de semana... 

Renasço reminescência, estapafúrdio de insensatez
Esqueci-me dos pensamentos tão imprescindíveis
E também das lágrimas soturnas que ponderavam em cada um deles
Esqueci-me e lembrei-me dos instantes  e das auroras
Nada disso consome-me tanto quando duas almas restituíam um só entardecer

Estou transgredindo a aura que me rodeia solene
O tempo, o tempo desintegrou-se do meu corpo e perambula em busca do inusitado
Mas só encontra as mesmas horas iluminadas por lâmpadas nefastas
Horas em cinzas, matéria inválida, anestésicos esvaídos
No rés de todos os apesares pretensiosos
Contempladas como se degustassem de segundo a segundo
De uma insólita utopia
Eu ainda perduro a teoria dos pormenores

2 comentários:

  1. Essas suas palavras transformam meu coração em um músculo violento, que poesia perfeita! Eu dou a ti meu silêncio para mostrar meu gostar

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