Escrever é uma doença
Que suscita ainda quando no ventre engloba
A comunhão de fetos fétidos
A moléstia interminável das artérias cegas
Que explodem estrelas primogênitas de dramas eternos
À mercê de uma madrugada desperdiçada
Escrever é uma doença letal, profetizada perfeição!
Que se alastra impiedosamente entre os órgãos
Mesmo que presuma-se a existência de um tumor benigno
Encrustado entre as tênues e plásticas partes do corpo
Quando tudo não passa da letargia momentânea da poesia vívida
Que enfatiza o disfarce dos enfermos dos últimos dias
Escrever é o câncer da alma
Em sua mais pungente condição
Que anestesia os sentido ainda que sinta-se nocivo
Tempos sucedem em difusão no organismo de qualquer um que escreva
E quando então, não há mais escapatória
Clamam por um vício sonegado à previsível e misantropa sina
Passam os anos, enfim
E entre o suor e a agonia das noites inquietas
Fada-se o atestado de óbito
Eis a linha cronológica dos poetas
De toda uma existência que antecede a Vida
Desde sempre mortos, precursores da essência fingida
Pois a verdadeira guarda-se para o fim em seu lapso de eternidade
Há quem diga que ao morrerem
Nasce, de fato, a legítima alma de sua poesia.
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