domingo, 12 de agosto de 2012

Para despir-nos da transgressão


*Libertatem*

    E eu já havia falado do poder da libertinagem, mas restou em mim uma dúvida, um segredo que por inúmeras vezes desalentara a clariaudiência do meus sussurros.  Não sei se realmente o "querer" impulsona-me àquilo que realmente quero. Pois ao querer estaria eu dissertando o pensamento, a consciência que tarda a fragmentar-se e varia entre milhões e milhões de dogmas, estigmas e doutrinas. Trata-se indefinitivamente de um sonho, um sonho o qual funciona como base de todos os outros que guiam ao centro de magnificência  — os detalhes de pluralidade e segmentação do magnetismo que atrai em si todos os vultos e os grãos de areia — e fosforesce. Vamos adormecer sem ao menos deitar-nos as têmporas num sono que de longe assemelha-se ao que vocifera em minhas veias. Uma energia cujo explode e desconstitui a cosmologia de um ontem como o grito que desperta em mim o silêncio.  No fim sobram-me apenas destroços, poeira, vazio.  
     Longitude esquematizada, é hora de singularizar o mistério, a lástima. Nas capas borradas de tinta hão os mais vulgares destino de tais demasiado rios quais transbordam a hipocrisia, tragam-me o que é mudo para que do silêncio ininterrupto possa criar uma voz possante. Considero que depois de um dia em beira à covardia daqueles que veneram a rotina e o nefasto,  seja, de fato, hora de fugir. Hora de adonar a parcialidade que rodeia a inconsciência liberta.
         — Há em ti um desejo  que arqueia contra a vontade de enraizar os sortidos limites da autonomia. —  disse a mais decrépita das vozes. 
                                                                               *

          Queria pluralizar tal contexto de "juventude e ator, ator, juventude  e si-próprio". Queria, por mera piedade, reivindicar a emancipação do que abriguei no mais profundo senso de mim mesma e relevar o crime que cometi tentando buscar uma forma envisgada e prudente de saltar do décimo segundo andar do edifício, enclausurado pela minha própria infâmia, sem que percebessem. Como parece-me imensamente árdua tal tarefa, que por vezes, fez-me pensar em desviar a subsistência das noites em claro, peço-lhe apenas que receba tal argumento como o desvario deste alvoroçado parágrafo.
           O momento incerto de quando eu entro em órbita com que escrevo é sempre de caráter debilmente órfico. No segundo exato a registrar os conjuntos de palavras fantasiadas de sonhos ocorre-me o que costumo chamar de invenção de egocentrismo momentâneo que é quando de repente, num trincar de inúmeras espáduas de ouro, tudo parece-me imenso, resplandecente e personificado a pertencer ao universo onde somente eu habito. Quase fora capaz certas vezes de atingir os mais elevados graus de opulência, de esplendor. Meus tímpanos timidamente trincam e suscitam ao som fétido dos fogos de artifícios no céu de uma madrugada comum como esta e muitas outras que tornaram meu tempo um alarido perpétuo. Minhas palavras já ornamentadas, adonadas em louvor ao pictórico destino carnavalesco da beleza, surgem como ouro valedouro na estação de escassez de recursos. Mas no fim são apenas palavras. Vazias, grotescas, descompassadas palavras. Tão soltas e sem sentido que chegam a me escapar e por fim, tornam-se sonhos esquecidos. 
        Sonhos, pois sonhos são sempre retóricos e ininteligíveis aos olhos dos que perdem-se na mais nova decadência humana chamada rotina.  Esquecidos, por quase sempre acabar por perder-me entre os dias monótonos e viver a duvidar de minha própria vontade. Tanto que divago, mas continuo a adiar o que sei que seja efêmero por puro medo. Medo do que indiscutivelmente não é definível como quem explica o porquê das rosas serem rosas, as estrelas serem estrelas e os louvores serem profícuos. 
     Há em mim, ou sabe lá como denomina-se tamanha inadequação. Há em mim um emaranhado de verdades, verdades que sobrevoam a estrutura descoordenada do vácuo das minhas entranhas, que orbitam uma outra chamada suprema, uma verdade absoluta. Esta consome os espaços vazios entre as excrescências, os intervalos de poeira onde hão os resquícios de memórias em minha síntese ilusória. Demasiado esplêndida, oculta as mínimas verdades que saltam de minhas mãos e por um momento vanescem à minha consciência. Errei quando dei nome às outras verdades e até hoje sofro por antecipação. 


*

   E após os desígnio de ostentação àquilo que não tolera a torpede virulência da opulência restrita, habitei os mais elevados níveis de invenção e amargura. Não impedi, nem impeço a minha própria alma de nortear sua sentença seja lá para onde me leve, porque depois de tamanha indignação, o máximo que de mim poderá cessar são os restos de integração naquilo que eu costumava chamar de esperança. Aquilo que às seis horas da manhã desperta-me e ensurdece meus ouvidos em virtude de um grito surdo, um grito que, não obstante, surge-me como uma palavra final, como a última declaração dos delimitados monumentos mortais que em algum lugar em mim ainda mantêm-se vivo após o fim que veio-me titubeante e intransigente.  Vividamente, meus sentidos caminham juntos ao clamor que pulsa nas extremidades do cubículo entre os porta-retratos e os cabides vultuosos. Por um segundo excita em mim uma voz, uma voz que salteia palavras de meus lábios ainda dormentes: 
          — Enterraram os fantasmas da minha infância, tais quais primogênitos d'um passado atônito que beira à insanidade a correr entre as veias fétidas de meus pulsos. 
        Ao término de vaga ambitude, ouço os passos inquietantes surgirem como um "despertar" débil e como num pulo sigo em direção ao lavabo ainda em estado de letargia. As palavras vagueiam em minha mente e satiriza a realidade a qual tornei-me retrato de minha própria circunstância. E o que, de fato, ainda alimenta meus sonhos são as incertezas que entorpecem as malogradas convicções. 
Latitude zero, Noroeste, Terra dos sem-terra. 

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