sábado, 30 de junho de 2012

Qual é o meu nome?

       O "não-ser" desfaz-se entre os milhões de véus que escondem meu rosto. Sou demasiado grande que jamais deixarei que saibam de mim. Seria de fato arriscado, ausentar-me é uma medida próspera para não permitir que levem-me embora. Seria suicídio. 
     Enquanto avisto do último andar do gigante de pedra e poeira, onde tantos espaços restam, tantos caminhos freiam, tantos corações ecoam... O Sol se pondo entre as nuvens de gás humano como um zigue-zague desarticulado, os últimos raios iluminam as janelas onde os pássaros deitam-se e quebram suas asas. Há algo certo na rotina, apesar das horas em branco. A rotina sempre torna-se uma verdade ao final do dia. O bater das portas são mudos e enfraquecem meus ossos enfermos. Não posso deixar que reconheçam os sonhos que brotam  no chão de mármore, pedaços de sonhos nascidos em lares alheios. Arrasto-os para debaixo do tapete e lá permanecerão até a próxima madrugada. 
   A anônima expressão do ato de falar. 
       Ao falar estaria eu não só balbuciando palavras ao ar o que porquanto tornaria-se um nada e deixaria penas voarem sem consciência do que ser-las. Minhas palavras, que na verdade nunca concretizaram-se, metamorfoseariam num turbilhão de significados e interpretações, logo tornaria-me o vão do pensamento alheio. Falo por necessidade, assim como vivo minhas horas versáteis por necessidade. Tenho necessidade de ter necessidade para maior organização de argumentos. Quando entro em sincronia a um pensamento tento ao máximo não pensá-lo por medo de banalizar as ligações do ego com o termo-exterior. Pensar é sinônimo de evacuar. Meus pensamentos não se alinham à metros de quarteirões barulhentos, penso em silêncio. E por pensar em silêncio desprezo os ruídos do meio fora-de-mim. Por fim torno-me embocada dentro das grades da estátua chamada meu corpo. Falo e minhas palavras não exatamente condizem com o que penso, logo minto. Surge-me uma ideia e em questões de segundos o pensamento desregrado esfacela-a. 
      O ato de falar é antônimo do ato de pensar. Tantos que falam sem ao menos terem consciência do que pensam... Tantos que pensam sem usufruir da imaginação. A imaginação é a benção do ato de pensar, sem a mesma estaríamos detidos a passar nossas vidas em cadeias. De repente, o pensar refere-se ao que seja eu? Pensa-se o que se é, ou é o que pensa-se? Ao pensar o que sou não encontro iluminação, muito menos o silêncio. Encontro-me em abismo.Quando sou o que penso acontece-me exatamente ao contrário. Sendo o que penso vejo-me à beira da translucência de uma atmosfera oculta em olhos serenos e compactos de um eu muito além do que se ver e do que tenho conhecimento. E ainda sim meus pensamentos parecem-me sujeitos à algo inexplicável. Talvez porque o segredo de minh'alma seja inexplicável e é por isso que não o encontro. Mas o que numa multidão se encontra? Ou se procura? Ou se procura e não encontra? Vive-se a procurar o que não há sentido procurar. Procurar para não achar-me e achar para não procurar-me.
       Da janela era fácil ter um senso comum do que rodeava, mas não parecia-me sensato, parecia-me farto. Tudo esqueceria-me, tudo que jamais soube meu nome. Tenho eu um nome? Chamo-me ar, abstinência e aurora? Traga-me perguntas e me livre de explicações. Explicações são teorias austeras de um ser-pós-regrado e tornam meu céu lúcido e tardio. Não compreendo metade de minhas ações, pois o estado impróspero de meus membros confundem minha mente, um passado cósmico. 
 - Não dissolve, alastra-se como um pingo de ácido.
 - Envolve a benção do tardar infame. 
 - Entorpece a voz dos anjos lúdicos. 
 - Delírio, delira o deleito de um leigo. Voa em vagalhões de poeira entre os trens nórdicos.
 - Partem sempre às seis.
 - Partem sempre que adormecem.
 - E por que partem? 
(Silêncio)
       Abri as gavetas. 
   Quantos sonhos... Sonhos que tornaram-se pedaços de papéis jogados em gavetas empoeiradas. As lâmpadas iluminam o canto do quarto que aparenta-me tão ordenado e mudo.  A desordem da gaveta grita o alvoroço dos anos frenéticos e vulgares que passaram como um avião à jato pelas janelas do meu apartamento. Restam memórias e filas sem fim para o espetáculo final de poucos horas de lamentação chamado eternidade. Há eternidade suficiente em insistir no impossível, na blasfêmia, no paradoxo. E a mesma faz do futuro uma incógnita.

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