sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Allen (a máquina de escrever, uma garrafa e a respiração leviana)

Tuas palavras vagam ao meu redor num mandolinar mecânico e desesperado e sintetizam toda poesia-aguardente resguardada nos pulmões disturbados 
Tu me contas das noites em que o sol foi expulso do céu americano e tuas crianças raquíticas andarilharam pelas estradas intermináveis seguindo rumo à escadaria luminosa dos reinos de Buda   
Das relíquias perdidas pelo caminho e  pelo gole inédito de solidões    
             e impulsos que invadiam as gargantas infernais 
Das aparições de rostos escarlates na janela das auroras que se enfureciam nos  quintais às  cinco e quarenta e cinco da manhã 
              e depois cantavam melodias nostálgicas ao ritmo do jazz
Das profecias sobre outros amanheceres nunca mais contemplados e daquelas urdidas por intelectuais e indigentes bêbados sem esperança que acreditavam ser perturbados por alucinações afrodisíacas 
             e atearam fogo em cartões-postais conjurando a criatura aniquiladora dos impérios blindados de capital corrente 
Das muitas cartas que escreveram relatando eventos sublimes, dramáticos, inusitados ocorridos 
            sob o céu sem estrelas e intoxicados de centros urbanos 
Dos espíritos mundanos que se saciavam embriagados e inconscientes em busca de tragadas fartas de Amor 
            para ao fim gestos físicos e beatíficos penetrados na essência de todas as emoções coexistentes fossem perdurados por séculos e séculos vazios 
Das línguas recém-nascidas que recitavam versos por longas horas de meditação insana 
           e a poesia ladrilhava impropérios diante de suas pálpebras pesadas através dos fossos de cinzas frescas 
Dos despertares após madrugadas regurgitando teorias sobre as constelações que eram incendiadas pelos arranha-céus nebulosos sob suas cabeças 
          enquanto os olhos afiados da bruma fulminante de Novembro dilaceravam suas longínquas e costumeiras memórias
Da contrapartida dos dias que guarneciam a eternidade 
          e incitavam os ideários inexoráveis perdurados pelos bardos pró-animadores de tabuletas 
Allen, tu enaltecestes as células poéticas duma geração entregues às esquinas atordoadas da América 
        e pusestes, sob as chamas esverdeadas do teu ofício, o cadáver imortalizado da incorporação mundana de todos os anjos 

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