quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Poesia e sugestão

― Creio, respondeu-me ele, que, no fundo, os jovens estão mais próximos do ideal poético do que os parnasianos, que ainda tratam seus temas à maneira dos velhos filósofos e dos velhos retóricos, apresentando os objetos diretamente. Penso ser preciso, ao contrário, que haja somente alusão. A contemplação dos objetos, a imagem alçando voo dos sonhos por eles suscitados, são o canto; já os parnasianos tomam a coisa e mostram-na inteiramente: com isso, carecem de mistério; tiram dos espíritos essa alegria deliciosa de acreditar que estão criando. Nomear um objeto é suprimir três quartos do prazer do poema, que consiste em ir adivinhando pouco a pouco: sugerir, eis o sonho. É a perfeita utilização desse mistério que constitui o símbolo: evocar pouco a pouco um objeto para demonstrar um estado de alma, ou, inversamente, escolher um objeto e extrair dele um estado de alma, através de uma série de decifrações.

Nós nos aproximamos, aqui, disse eu ao mestre, de uma grande objeção que eu tinha para lhe fazer... A obscuridade!

 Com efeito, é igualmente perigoso, respondeu ele, que a obscuridade venha da insuficiência do leitor ou do poeta... Mas evitar esse trabalho é trapacear. Pois, se um ser de inteligência mediana e preparação literária insuficiente abre, por acaso, um livro assim e pretende gostar dele, ocorre um mal-entendido, e é preciso colocar as coisas no seu devido lugar. Deve haver enigma na poesia, e o objetivo da literatura - não há quaisquer outros - é evocar os objetos.

Stéphane Mallarmé (França - 1891)

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