sábado, 3 de novembro de 2012

Estamos carregando nos ombros a noção translúcida do esporádico.

Confesso que aprendi mais do que deveria sobre regras desnecessárias ou sobre a simetria dos astros de acordo com as estações. Que ao passar dos anos a inutilidade preencheu o meio-espaço vazio no canto do quarto levando consigo a relevância: os sóis da lógica, a lógica dos sóis.

—  Dos sós.

—  As horas se opõem à razão, meu amor. Não há de fato um futuro resenhado à sete palmos longitudinais. Passaram-se mais do que falsificações de gestos entre os dias superdimensionados, entre as lâmpadas apagadas, os bordões, os camicazes.

—  Os trechos das canções transigentes à melancolia, à taquicardia. 

—  Você compreende as armadilhas que sobrepõe ao necessário? 

— Estamos tentando subtrair qualquer conjunto numérico datados sobre o dia um tanto quanto marcado na história, não é?

— Um tipo de elogio ao perigo, à desintegração da razão. 

— Alguém uma vez fez do supérfluo a última noite de lua, a atuação principal do teatro das onze. Isso é o que esquecemos. 

— Mas nem tanto. É bem como quando eu passo pelas avenidas deteriorando ordens, recriando fotografias como se tudo permanecesse num ciclo desenfreado dentro de mim . É que sempre imagino o quanto todos as jogadas de luzes, todos os sons sintéticos, todas as vidas contidas são consideradas irrelevantes àqueles que nunca fotografaram o pormenor da desilusão precoce. 

— Já nos tornamos intérpretes da hipocrisia, meu bem. Estamos cansados de aumentar os detalhes. 

— Estamos cansados de questionar os detalhes. O princípio dos átomos ocorreu anterior a qualquer mísero pedaço de unha ou metrópole. Nós somos parte de algo que sempre esteve presente, mas foi descoberto muito depois de nós mesmos.

— Assim como a indiferença?

— Assim como o crime cometido às escuras.

— Talvez seja melhor mesmo que a superfluidade suma levando consigo os barulhos mudos que escutamos à noite entre as casas ainda não fotografadas. 

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