— Confesso que aprendi mais do que deveria sobre regras desnecessárias ou sobre a simetria dos astros de acordo com as estações. Que ao passar dos anos a inutilidade preencheu o meio-espaço vazio no canto do quarto levando consigo a relevância: os sóis da lógica, a lógica dos sóis.
— Dos sós.— As horas se opõem à razão, meu amor. Não há de fato um futuro resenhado à sete palmos longitudinais. Passaram-se mais do que falsificações de gestos entre os dias superdimensionados, entre as lâmpadas apagadas, os bordões, os camicazes.
— Os trechos das canções transigentes à melancolia, à taquicardia.
— Você compreende as armadilhas que sobrepõe ao necessário?
— Estamos tentando subtrair qualquer conjunto numérico datados sobre o dia um tanto quanto marcado na história, não é?
— Um tipo de elogio ao perigo, à desintegração da razão.
— Alguém uma vez fez do supérfluo a última noite de lua, a atuação principal do teatro das onze. Isso é o que esquecemos.
— Mas nem tanto. É bem como quando eu passo pelas avenidas deteriorando ordens, recriando fotografias como se tudo permanecesse num ciclo desenfreado dentro de mim . É que sempre imagino o quanto todos as jogadas de luzes, todos os sons sintéticos, todas as vidas contidas são consideradas irrelevantes àqueles que nunca fotografaram o pormenor da desilusão precoce.
— Já nos tornamos intérpretes da hipocrisia, meu bem. Estamos cansados de aumentar os detalhes.
— Estamos cansados de questionar os detalhes. O princípio dos átomos ocorreu anterior a qualquer mísero pedaço de unha ou metrópole. Nós somos parte de algo que sempre esteve presente, mas foi descoberto muito depois de nós mesmos.
— Assim como a indiferença?
— Assim como o crime cometido às escuras.
— Talvez seja melhor mesmo que a superfluidade suma levando consigo os barulhos mudos que escutamos à noite entre as casas ainda não fotografadas.
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