quinta-feira, 8 de novembro de 2012

[...]
                      E nos acusavam de não pertencer ao mundo: contradizes as normas! estão na rua! Era a vez de ríamos um pouco, enveredar o cansaço eterno dentro de nossos peitos marcados por mais uma primavera sem flores e atores sem scripts. Vivíamos quase ao lado da história bordada adornadamente pelos infiéis, pelos ladrões de noites, pelos corruptos de beatitude. 

                         Espírito de dramaturgo, é manhã de Carnaval. O coração nos aflige em troca de passadouro, como clamavam a inter-estória dialogada às pressas. Que eu saiba, nunca insisti por ordem. Tudo é de costume, meu bem. Cantávamos as modinhas às quatro horas da manhã mesmo que todos estivessem dormindo no edifício. Que se danem os figurantes! Nesse teatro de louvor ao desproporcional e decadente só nos resta descansar sob os colchões imundos da praça entre os bordões e lares antiquados.

                   Existe um fundo de loucura em não fazer nada. Existe poesia e contradizer o mundo. Mas é que quase sempre não entendiam, nem mesmo nós entendíamos. Seu cabelo estava cada vez maior, baby, repleto de fios suicidas e soltos, cheirando à cafeína e areia da orla. Pró-revolucionarismo concebido à nossas almas de clandestinos, estrangeiros desde as monossílabas até o último hálito de Ano Novo. 

[...]
                   Unidos aos círculos que se alinhavam em nossas têmporas fadigadas eram por mais uma vez guardados entre as noites em claro os soluços radiofônicos, a voz de protesto. E eu decodificava paradoxos em miúdos findados como manifesto ao sono, ao luto que recobria nossas interrogações. Eram cobrados mais que um simples gesto de niilismo no vácuo de nossos risos. As manchas de tintas marcavam minha pele em encontro ao seu queixo adormecido em meus ombros. Era de fato estranho imaginar que no mesmo instante a curvatura da lua no céu opaco que saltava recitando a melodia do tamborilar da chuva de fevereiro, nos impedia de certificar qualquer memória.

                     Era algo pelo qual implorava desde os sete meses a intervir no acaso sem sequer ter uma noção definida de fuga. Quando o abandonávamos, a melancolia pairada sob o grito sensibilizado, nos reencontrava. Acontece que nunca tínhamos escapado vivos do escuro.

                     Morávamos no nada, mas existia apenas o espaço em branco, a aurora pálida ainda não suscitada. Enquanto vitimados à desolação entre transposições,   tudo acontecia embocado em seu ciclo ao nosso redor sem que pudéssemos conter qualquer equívoco conscientemente. 

Luiza Duarte em Mercúrio ainda era o regente dos loucos

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Páginas

Seguidores