terça-feira, 23 de outubro de 2012

Além dos toques e fotografias.

             O mundo pede, esconde, respira, monumentaliza detalhes. Eu poderia falar das digitais esquecidas nos cantos côncavos da sala de estar ou dos elétrons que iluminam em fosfenos gráficos o espaço exacerbado de dados efêmeros e vírgulas circunscritas. Eu poderia falar das linhas simétricas brotadas do lampejo de insônia mensal existentes abaixo de seus olhos vigorizadores da alforria. Ou de como espera pelas vindas das monossílabas alheias antes de replicar insolitamente numa discussão pacífica. 


            Eu poderia categorizar as ondas magnéticas que escapam dos gigantes de pedra e mármore em alusões mitológicas ou contar quantos passos um estranho qualquer dar até chegar ao outro lado da avenida entre os automóveis e os resquícios de transcendentalidade.  Eu poderia esquematizar os movimentos ondulatórios do oceano verde-cor-de-oliva ou fotografar os átrios articulados dos átomos dúplices que invadem as calçadas lustrosas. Eu poderia esperar nascer dos solos urbanóides as flores genuínas comercializadas no Oriente ou relevar as contrações musculares impulsionadas no instante em que despertamos do coma diário. 

            Eu poderia transpor o esplendor dos adornos comemorativos ou abusar do escárnio de quais as palavras são proferidas em outdoors e furtos de memória. Eu poderia calcular a medida proporcional desde minhas unhas até a última esquina onde os mártires do Fado adormecem ao chão. Eu poderia dizer, pro-dizer, clamar as transgressões que cometemos ao deixar escapar os preceitos dos conceitos, a poesia interpretada erroneamente pela reverberação de nossos discursos tolos. 

            Mas tudo conspira contra os pormenores prematuros da beleza findada a cada repôr dos astros, pois os toques são apenas herdeiros da fisiologia. É o que é, de fato deveras simplista à visão do universo. Eis que o desdobramento de interstícios ou quaisquer que seja sua linha de pensamento se esvai derradeiramente. Anteriormente à tudo, o que em fotografias fora adiantado, resiste aos homicídios subjetivos da introspecção. 

            Do que eu me recordo, o ar transitado se suas arfadas partia à caminhos das esferas superiores acima dos meus lábios ainda abafado e um tanto quanto intrínseco, junto à irresolução do mormaço matinal ou ao regresso dos raios solares. Quando os milésimos davam-se como dádiva de inquietação e ao reabrir as janelas, ligar os abajures e as telas defeituosas eram assistidos os espetáculos cinematográficos martirizados de devaneio. E eu ouvia os sussurros mudos vindos dos cantos de seus olhos transbordados do crime e da razão.

            Confesso que talvez não fosse mais capaz, seja por tentativas ou jogos de adução, de tentar dar algum significado ao cálculo irregular dos gestos decadentes após a falência de ostentação, de propôr menção a facilidade em abusar do senso-comum como em nossos velhos diálogos. Seria necessário que eu os absorvesse em segundos, prolongasse os intervalos de tempo no momento que fosse percebido o primeiro indício de dor ou desconexão. 

            Haveria, então, certificado os segredos perdidos, o que resta do silêncio reverberado no paradigma da razoável distância. Os quilômetros não são muitos, mas o espaço deixado pelos vinte dias em branco  um fosco de apatia inédita, fora de qualquer contexto posterior à eternidade  é inatingível, infinito. Fomos os autores de nosso próprio desfecho sem volta, sem hino, sem escolta. 

            Fora tudo sempre lido às pressas, escrito enquanto feríamos com nossas próprias unhas. E da inquietude ensaiava-se o tão adiado fim, mas jamais esperávamos que o script finalmente fosse finalizado e aplaudido com tamanha vanglória à arte. Meu amor, os trechos à la Hubert Hubert soavam como um pedido de perdão entre as luzes pálidas da noite de Setembro. 

            Ter qualquer noção da efemeridade de nossas expressões desfragmentadas, de nossas palavras desarticuladas sopradas em via de um órgão vital era uma habilidade inacessível ao descompasso de ideias. Não havia observado ou sintetizado qualquer black-out emotivo acoplado ao impasse roubado. Não sabia que seria demasiado tarde quando a camada gélida que envolvia minha pele pudesse, enfim, carecer aos toques topografados nas cartilhas escritas há um pouco mais de sessenta dias atrás. Eu tinha todas as circunstâncias previstas, ou pelo menos espera.Fomos credores  da discordância entre verbetes e ensaios fotocopiados, apenas meros precursores da sonolência ínfima. 

               Ou ainda sim, intérpretes vivendo como loucos à espera de um papel imortalizado. 

            É graças aos detalhes que são descobertas as causas ocultas da aflição aos olhos dos que sentem, dos exorbitados pelo mistério, dos poetizados pela catástrofe, dos profetizados pelas vozes do mundo. São dos mais circunstanciados estreitos rodoviários que brotam os impérios helenísticos, cujo os portões são abertos somente às três horas da manhã.

               O mundo tornara-se farto.

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