quinta-feira, 7 de junho de 2012

Madrugas à turquesa: capítulo 2


        Partir em direção ao destino distorcido a cavalgar sob o céu violeta. Abrira as janelas às 8 e já às 10 a atmosfera tornara-se cinza e desregradamente diminuta. De maneira alguma aspirariam o menor esforço de minha parte, estava dominado por aquelas paradisíacas ideias intrigues e, portanto,  tão descometidas. Foram tantos os termos procurados para adaptar-me à degenerada infâmia banal da vida de um ser indiferente, porém nenhum deles conseguira traduzir ao menos o impacto sutil de uma flor à brotar nos mais rigorosos invernos. 
       Nunca havia visto um entardecer como o daquela época. Há tamanha beleza na dor, na melancolia e na solidão que somente os poetas são capazes de enxergar. A água da chuva que lá fora varre as ruas entre os edifícios ambíguos e austros também há de levar ao nexo de um dia sem sol e virtude. 
Noite.
       Os espaços dúcteis de meus ossos trincam entorpecendo meu corpo inteiro. Veio-me o fracasso tão barato como um diamante à beira das ondas que varrem a costa gélida num céu 364 dias do ano nebuloso. Há algo de errado nos cantos profundos de meus olhos. Há algo de errado em estar tão errado. Há algo de errado nestes entardeceres sólidos e demasiadamente tardios onde o sol se põe sempre ao derradeiro impacto reverso. E a noite brota em solo estéril na direção lunar horizontal da orla marítima. Tudo parece-me mais distante nas madrugadas e ainda sim, tão possível e eterno como a inocência de um sonho. Às vezes imagino-me na convivência diária banal das relações sociais, os diálogos tornam-se tão vazios que parece-me um tanto quanto superficiais. Permaneço em movimento constante pelas calçadas de mármore e cal. Certas vezes sinto meu corpo flutuar a ser levado pelas cores do vento. Outras sinto-me sob os trilhos de um trem bala sem horizonte à vista. Chega então a hora em que meu corpo encontra sua arcada e compacta-se num colapso denso, azul turquesa. As horas dissipam-se como um turbilhão de enigmas cujo tornei-me incapaz de decifrá-los, pois tornei-me parte do enigma. 
 - Por que confunde-me tanto?
 - De maneira alguma confundo-te. Estou dizendo-lhe o que vejo nos decorres dos entardeceres destes últimos meses. Há demasiada magia nos detalhes dos deuses ocultos assim como nos olhos recém-nascidos de uma alma desgastada. Vejo-te tão sútil nos mais leves traços como uma flor a brotar no chão de pedra, na beleza da tua juventude saciada de ignorância. Tuas veias estufadas e vazias recorrentes de tamanhas paixões que deixaste levar embora tua aura. Acorde enquanto ainda há tempo. 
 - Diz isso porque nunca amaste...
 - Amei muito mais do que fui capaz. Este foi meu maior mal. Veja agora o que tornei-me. 
Pus então minhas mãos fria sobre o banco de madeira à beira da orla. Eram 4 horas da manha. Estava eu sentado sozinho a sentir a brisa frígida enquanto as órbitas cessavam despercebidas à Lua.

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