terça-feira, 29 de maio de 2012

Veias saciadas ou delírios de artérias psicóticas

    Acho que desatino-me. Suprir minha insanidade com indiferença leva-me à loucura. Estes dias monótonos e curtos nascem sempre ao meio-dia quando sinto meus pés adormecerem e meus olhos desfocados taxiam pelos corredores vazios. Além dos conjugues alheios que continuam a dissertar-me, os gritos saltam de minha garganta ainda surdos como um imenso oceano de pedra. O despertar não aquece-me mais. Tive um sonho tão estranho quanto a realidade. Sonhei que minha visão embaçava-se e aos poucos tornava-me cega. Quase conseguia distinguir os tons de cores, mas a cada segundo era mais escassa a luz refletindo em meus olhos. E enfim veio-me o breu, completa escuridão das noites sem utopia. Toda forma de delicadeza em gestos, toda a beleza de um mundo à vista. Fora embora como quem perde os próprios membros. 
      E no meu exercício diário de "existir" pondo-me as questões necessárias de uma vida breve, logo encontro as mesmas dúvidas que nunca terão respostas. Um pedaço de maçã posto na janela, intrigante os aspectos tão inexpressivos e indiferentes a cerca da vida de uma fruta ou de qualquer outro ser sem vida. Tudo que não inspira e expira ar permanece no mundo como uma pedra no caminho ou uma agulha no palheiro? Será tão simples a lentitude de uma evolução? Todos viverão presos no complexo ato de ocupação de massa? Átomos como todos e tão inúteis como vários seres constituídos de pulmões e mentes. 
Sinto os raios de luz em órbitas alinhadas todas as manhãs em meu rosto, assim como sinto minha nuca esquentar entre as paredes frias e os lençóis velhos. 
      Adoraria ter de deixar o despertar destas manhãs lúcidas. Não me importa se ainda é cedo, se o céu ainda está claro, se as ruas ainda estão vazias… Pressinto que meu ar desmoronará em dilúvio sentido, arfando como um impacto contrário. Eu estava tão frágil e ao mesmo tempo, tão… Grande? De repente, senti-me farta do terço dos restos translúcidos que me orbitavam. Eles nem sequer perceberam como meus olhos transbordavam tanto quanto os rios que nascem no prelúdio das chuvas. Sentei-me perto a uma multidão e repetidamente exitei universo adentro: “Eu quero ir pra casa, quero ir pra casa, eu quero ir…”. Custara tanto tempo assim? Nunca me fora fiel a passagem estreita para mais alguns anos. Estava começando tudo de novo. 
         Tudo que por sinal, nunca tivera fim.

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