sábado, 19 de maio de 2012

Madrugadas à turquesa: capitulo 1

    Meus sentidos padecem sobre minhas têmporas cansadas. Quisera eu debruçar-me sobre o luar tímido de primavera cinza pós rascunhos, o retórico sonho de quartos de hotéis baratos. Noite passada imaginei meu futuro após alguns anos, isto parecia-me impróprio. No entanto meus miolos concordara-se entre si, como uma soma exata de cargas elétricas conectadas, como um plim-plim nos cantos empoeirados da minha memória falha. Veio-me um argumento introduzido em gargarejos, meus lençóis cheirando à cafeína, meus olhos refletindo as paredes encarapuçadas. Parece-me nítido minhas feições pálidas, as pessoas raramente observam-se a si mesma ao espelho. "Ah, sua vida é mais banal do que...". Talvez. Nada exteriormente intriga-me, é estranho, poucas pessoas me encantam.. 
    Tivera eu um dia tido o universo entre estas linhas inacabadas. Como num sonho tardio, o sono embala minhas longas e paradoxas madrugadas. Eis que um sonho não sustenta mais de um dia. Derrapastes as notas esquecidas das canções aveludadas sobre meus ouvidos surdos. Intrigante, estranho, impróprio. Ladrilhos à turquesa, nuvens em atmosferas duplas. Minha nuca esquenta como o núcleo de uma estrela, minhas cutículas ardem como a ausência, almirantes extorsionários. As portas num brilho intenso ecoam o silêncio das ruas desartificiadas, antarticita. Escondido entre dez milhões de atos - e - átomos, em guarda eterna de um árduo colapso afixado. Tão remota a passagem para um abrigo distante, tão distante quanto a mim, quanto os lados opostos de minha face. Tão exato, tão intacto, veio-me os lances certos de um caminho tortuoso em direção ao não-sentir. Frágil. Tão frágil. 
   Quanto à mim, a melancolia tornou-se um vício.  Tento correr entre esses parágrafos, no entanto meus pés tropeçam a cada breve vácuo de falsos sonhos. A aura sagaz e vazia é parte de cada lágrima oculta minha. Os redemoinhos de segundos desperdiçados faz do meu tempo um turbilhão de  ideias que levam-me ao delírio. Medo de sair daqui, do ser-dentro-de-mim. Medo de encontrar-me em um outro alguém. Fuga, fuga, fuga... O tempo tudo. Fuga. 
   O sonhador que assistia o pôr-do-sol, mas cessava na escuridão. Por isso, as horas eram induzidas em desistência, fracasso. Solidão. Madrugadas eram um tanto quanto utópicas, enquanto todos dormiam, eu despertava. O sol nascendo oculto dentro dos cantos vazios do quarto, as paranoias perturbando-me como um raio multicolor. Tenho condições certas do meu eu até a tarde, mas quando o sol se põe meu esconderijo retraz-se e perco-me entre os nuances da noite. Quem seria eu, então, depois de tamanhos erros ao contar o tempo que passa dentro de mim? Atraso, anos atrasados. 
 Tão escasso quanto meu raciocínio, as luzes apagam-se como um carrossel monótono ao redor de larícios outonais. À beira de uma galáxia distorcida na palma de minhas mãos, navegando no oceano profundo dos teus olhos. Tarde demais? Botões articulados nos montes fartos de minhas vértebras, aduzir-se como um espelho arcaico, íris turquesas. Transluzir nos teatros ornamentais de minhas cortinas refletindo os raios opacos das cinco da manhã. Eis que o céu surgi-me como um dado com ambos os lados iguais, contorcendo-se entre os vestígios de uma noite longa. Meus relógios acertaram-se, minha alma pondera-se ao realce de mais vinte quatro horas. Madrugada tornou-se dia. Adiante, um sopro que perde-se no ar. Monumentalizar. Reerguer-se. Delirar. 

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